quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Bairros sociais

Este fim de semana li um reportagem sobre bairros sociais, mais propriamente o Bairro do Condado (conhecido como Zona J) e fiquei a matutar no assunto.
Como uma licenciada em Educação Social e sem trabalho na área, um bairro destes era um doce/miminho que me davam.
Porém, também sei que não aguentaria dois dias a trabalhar num bairro social em que pessoas de fora se recusam a entrar lá, nomeadamente taxistas, visitantes (não sei que visitantes é que bairros sociais podem ter, além de educadores sociais, sociólogos, assistentes sociais...e toda um serie de profissões relacionadas com a inserção social, etc...não estou mesmo a ver quem quer fazer uma visita guiada por um bairro social), políticos (só em campanha e sendo eles no mínimo um grupo de cerca de 30pessoas), polícia (sim porque os amigos tem medo [até eu teria quanto mais]).
Enfim, a reportagem era porque os moradores estão indignados com a possibilidade de deitarem uma das bandas abaixo (ou guetos como eles lhe chamam). Até compreendia se essa banda fosse ela habitada de forma legal, ou se por ventura fosse ela de alguma utilidade. No entanto, a utilidade que ela tem é, principalmente, de sala de chuto...visto que a maioria das habitações já têm as portas e janelas empedradas (não sei se a palavra existe, mas refiro-me a estarem tapadas com pedra e cimento).
Não estou aqui a generalizar, porque sei que nem todos são iguais, que há pessoas boas, honestas e trabalhadoras em todo o lado (lá também como é óbvio), mas ao ler melhor a reportagem deparo-me com um caso de uma rapariga que vive clandestinamente numa dessas casas que possivelmente vai abaixo e diz que não trabalha porque recebe (quase) 200€ da segurança social, que lhe dá para os gastos mínimos e que se sair dali ainda lhe roubam o pouco que tem. Depois vem mais um rapaz que diz que não vai trabalhar porque recebe uns 300€ e se for trabalhar vai receber o ordenado mínimo (que não difere muito, segundo ele) e ainda tem de trabalhar...assim não faz nada. Depois, para finalizar, ainda dizem que só descansam depois de terem a chave de uma casa nova na mão.
Pois é aqui que eu entro, e apesar de ser Educadora Social e saber que por vezes o estigma que estas pessoas carregam nas costas é demasiado grande e que lhes fecha muitas portas, mas eles também se encostam muito.
O Estado deita abaixo as barracas deles e dá-lhes chaves de casa, nomeadamente apartamentos, claro que têm de pagar uma renda que vai desde 2.50€ até... (não sei até quanto vai porque isso depende do rendimento das pessoas). Arranja associações com muitas valências para que os possa ajudar, arranja pessoas que queiram trabalhar com eles e pimba ao fim de uns anos a associação já só funciona a meio gás, ninguém quer ir para lá trabalhar porque não são bem aceites ou então se o são, não vêm nenhuma recompensa pelo trabalho deles (quando falo em recompensa não é dinheiro, mas sim darem utilidade e valor ao que eles fazem) e um dia acabem por se fartar.
Depois acho que a forma como o Governo quer inserir as pessoas oriundas dos bairros que eles demoliram é fantástica. Enfiam-nos em apartamentos, os prédios são sempre coloridos e com cores que não lembra a ninguém (deve ser mesmo para identificar ao longe), e o pior mesmo é colocarem-os todos juntos novamente. Será que não perceberam que isso é quase a mesma coisa, e que tal separem-os como fazem nas escolas quando estão a fazer turmas...separam os rufias pelas varias turmas (pelo menos antes era assim ou não???realmente eu estava numa turma para aí com uns 4...por isso não deve ser assim).
Mas continuando, se os separassem, abririam muitas mais associações de apoio à inserção social (trabalhinho para mim :D) e a possibilidade de elas terem sucesso era bem melhor...Agora não, vamos jogar as barracas a baixo mas enfia-los todos na mesma zona que é para a policia nem sequer conseguir lá entrar, pois no suposto bairro mencionado no inicio, a policia diz que a construção do mesmo é propicia para eles fugirem, barricarem-se e ainda dos vários andares (ou sei lá) atirarem-lhes coisas. Boa logo são bairros fantásticos. Claro que lá também há pessoas que trabalham e que têm a sua vida...e que não querem confusão mas no fim estão todos no mesmo barco...pelos comums mortais de fora são todos vistos como uns fora da lei...(aqui acho que já estou generalizar um bocado porque sei que não é bem assim).


Depois de escrever isto fiquei com vontade de rever o filme...alguém neste mundo que é a blogsfera que me disponibilize o filme de uma forma totalmente legal como é óbvio...

E já agora alguém sabe o nome da musica que acompanha o trailer???

5 comentários:

  1. não sei, sorry. e tens toda a razão :)

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  2. é que infelizmente é mesmo :s andam muitos a trabalhar para isso.. enfim. bem sei que a crise e o desemprego afecta muita gente, mas há muitos que não trabalham porque não querem e por preguiça!

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  3. os bairros sociais são com guetos que isolem e descriminam quem está lá dentro e afastam os de fora. É uma política de habitação social que na minha opinião deveria ser repensada, senão mesmo mudada!

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  4. Concordo em tudo contigo.. Não se pode generalizar totalmente, mas que a maioria é assim. Quase que não tenho dúvidas..

    Beijinho.

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  5. A música é dos Delfins – Só eu te posso ajudar.

    Eu acredito que nestes casos tudo o que estas pessoas precisam é de um abraço e de um voto de confiança, e mais importante, que deixem de ser olhadas como marginais. Obviamente nada se resolve de um dia para o outro e bem podem ser esperadas muitas dentadas a mãos estendidas ou carteiras roubadas a quem confiou, mas com paciência, persistência e bastante coerência, se realmente nos uníssemos nesta causa, um dia teríamos os resultados esperados, mas infelizmente já dizia Einstein que “É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”, e muito mais difícil se torna sabendo que vivemos num mundo onde só o dinheiro importa. Nem todos nascemos com as mesmas oportunidades e deve ser realmente triste e difícil crescer sabendo que carregamos determinada cruz que não escolhemos mas que a vida nos determinou. Além da constante discriminação exterior, têm ainda de crescer e viver segundo influências daqueles que os rodeiam.

    É um longo caminho que ninguém ousa percorrer.

    “Não me dês peixe, ensina-me a pescar”

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