Sinceramente faço e sempre fiz. Todos nós a partir do momento que nascemos fazemos parte da geração à rasca. As coisas estão mal, pois estão. Eu estudei e trabalhei, muitas noites mal dormidas para conseguir pagar as propinas, fui contra algumas pessoas que achavam que o melhor que fazia era deixar de estudar. Tirei uma licenciatura que sinto que podia ter dado mais de mim mas na maior parte dos dias trabalhava as 8h diárias e ainda tinha que apanhar com uma seca de aulas que só visto. O meu curso tem uma teoria fantástica, é um curso que dá trabalho mas também se faz muito bem. Sejamos realistas, há cursos e cursos e alunos e alunos. Eu nem fui para o que realmente gostava, mas isso não fui porque avisaram-me logo que ia arrastar a matemática durante muito tempo. Talvez até não arrastasse porque eu gosto de números, gosto de coisas lógicas e talvez essa fosse a minha verdadeira vocaçao.
Falando da geração à rasca que é aquela que vive a vida ao momento, aproveita tudo o que a vida nos oferece e que ainda quer mais. Na verdade isto é injusto. Eu tirei uma licenciatura e trabalho num restaurante de fast food da mesma forma que trabalham lá jovens que mal fizerem o 6º ano. Onde está a diferença aqui? Não é nenhuma. Mas isto vem de onde?
A minha familia não é nenhum exemplo para se seguir mas nós somos pessoas de garra e por isso mesmo eu decidi que apesar de ter andado a brincar no secundário que havia de tirar uma licenciatura. e para quê? Para andar a servir refeições às outras pessoas e por vezes ser tratada como se fosse lixo por algum senhor engenheiro que se julga com mais escolaridade que eu e que secalhar até teve de 'comprar' a sua licenciatura.
Se gostava de ter um trabalho a sério? Se gostava de ter oportunidades como vejo algumas pessoas terem? Claro que sim. Tenho a certeza que seria uma boa profissional e sei que poderia fazer muita coisa se trabalhasse na área que gostava de trabalhar. Se já desisti? Isso ainda não sei. Se estou à rasca? Isso estou de certeza que mais dia menos dia fico sem emprego e depois quero ver como me sustento a mim e ajudo a minha mãe.
Nós (a minha família) sempre fomos daquelas pessoas à rasca. Nunca me faltou comida na mesa mas faltaram outras coisas. Por isso mesmo sou lutadora e sempre lutei por tudo aquilo que acredito. Agora se acredito que este país alguma vez vá mudar... aí a conversa já é outra.
Nós, a geração à rasca que já vem desde a altura dos meus pais, não tem emprego e os que há são precários, não temos dinheiro, não há igualdade e muito menos vontade que exista. Isto não pode e nem vai partir de nós se continuarem a eleger gajos que mantenham todos os privilégios que a classe alta tem. A geração à rasca continua à rasca e eles continuam com os bolsos cheios de dinheiro.
Na verdade nunca serei rica, tenho uma licenciatura para trabalhar de graça e ajudar o próximo mas se ao menos me oferecessem um ordenado já era bom, porque nem isso acontece. Ultimamente nem voluntariado aceitam...
Infelizmente não fui à manifestação porque tenho que tentar manter o meu emprego rasca mas que é o que me põe o comer na mesa todos os dias... mas meus caros a mudança está em nós e quando voltarem a se chegar perto de uma mesa de voto pensem no que fazem, ou talvez nem cheguem lá perto.
Os Homens da Luta é que o fizeram bem, gostava eu de ter a coragem deles em fazer o que dizem...porque há muito boa gente por aí que fala, fala mas fazer está mas é calado que daqui não tiro o pé.
Este deve ser o texto mais sem nexo alguma vez escrito, é porque o sangue de revolucionária ferve-me nas veias e começo a sentir que nada se pode fazer...